A fuga que afoga

A fuga que afoga

Em tempos de pandemia, procurando saídas,
escapes, fugas, corremos o risco de aprisionarmo-nos em outras celas…

A piscina se apresenta como um recipiente feito
de azul e de transparência que confunde e ludibria… aprisiona a água e será
que nos aprisiona também?

A água que lava, que leva impurezas nem sempre
é capaz de lavar o invisível como o que está nas consciências, nas almas… e
incapaz de lavar nossos medos…

Quem sabe se lavarmos afetos, mergulhamos em nós
mesmos e purificamos a nossa humanidade, a nossa relação com o outro e nos
impregnamos desse azul…

Mergulhados na limpidez da água, quem sabe nos
desafogamos e liberamos nossas fugas da incoerência, da dor, do desamor…

Esse paradoxo de fugas do ar, do vírus, da
doença também, pode nos levar ao afogamento de nossa consciência, de nossas
relações…

O equilíbrio é o desafio…

E, talvez, a saída seja cultivar lembranças,
memórias de um tempo em que a água seria simplesmente lavagem, libertação e não
substituição de uma opressão (o vírus que não nos deixa respirar) por outra
opressão (a água que afoga, que mata e que não lava).

Mônica Lóss© All rights reserved.
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