Texts

About the artist

O Medo de sentir medo - Stephanie Wruck 

Autonomy and transformation - Paula Coraline (Portuguese Version)

O Medo de sentir medo - Stephanie Wruck - Coletivo Amarelo

“O Medo de Sentir Medo” da artista brasileira Mônica Lóss é uma série de 29 fotografias que dialoga com o absurdo. A artista costurou pedras de jaspe vermelhas em luvas pretas que foram encontradas em um brechó. A partir daí, ela se fotografou enquanto gesticulava suas mãos em frente à câmera. O experimento serviu para refletir sobre o momento atual: a vulnerabilidade trazida pela pandemia, o absurdo que invadiu a vida cotidiana e o impacto na saúde mental.

A tensão que existe entre o ato de “se esconder” versus “se mostrar” é um paradoxo presente nessa obra. Em espaços virtuais, como pode se ressignificar a auto-exposição em frente às câmeras? O corpo atua como um escudo transparente, que ao mesmo tempo que protege, escancara as próprias fragilidades. A luva, sintetiza essa ideia, como uma proteção imaginária, que mais expõe do que esconde. Em meio a uma pandemia global, onde máscaras e luvas são instrumentos de defesa contra um vírus invisível, as luvas de Mônica expõem o nosso medo daquilo que não é facilmente identificável. As imagens atraem o espectador, mas provocam um estranhamento: há um estímulo para olhar as belezas das imagens, mas também repulsa.

"O medo de sentir medo" é também uma questão de saúde mental e um reflexo dos desequilíbrios neuroquímicos que a própria artista experienciou no passado. Para Mônica, ataques do pânico e crise de ansiedade foram episódios paralisantes, onde a sensação de medo intenso a incapacitava.

Albert Camus, autor de “O Estrangeiro” é o principal pensador da Filosofia do Absurdismo, na qual os conflitos internos na busca pelo real sentido da vida são questionados e a própria ausência de sentidos surge como conclusão. Diferente do existencialismo de Nietzsche, Camus oferece um olhar mais otimista, ao defender que é preciso aceitar o absurdo em nossas vidas e triunfar sobre ele, sem render-se ao desespero. Para Camus, a aceitação do absurdo é o que conduz a uma vida repleta de liberdade. Interessante dizer que esse era o autor lido por Mônica no momento de execução da série.

É possível percorrer processos criativos sem passar por rotas absurdas?


Autonomy and transformation - Paula Coraline - Diacrítico

Just as fabrics are used to wrap the body, in theartistic production of Mônica Lóss they are explored to embrace representationsof natural elements, the female universe or daily constructions. Whether withdelicate structures or those that seem eccentric to look at, the artist's worksoffer a constant invitation to proximity and coziness, creating spaces ofrefuge and breathing.

In an extensive and meticulous body of work,there are emblematic works, which clearly summarize the artist's research. Thisis the case of “Enredos”, an artist's book delicately constructed with seams,fabrics and tracing paper. There are the presence of elements that emergestrongly in other works of the artist, such as gestures, the body, the act ofmaking, as well as the presence of seams and textile materials. These materialsare used to sew a narrative that enhances spaces, crossings and reminiscences.In addition, time appears as an important element for Mônica's artisticprocesses, since the book was thought and built during five years

The organic forms of the works evoke naturalelements, as in “Weird Things Grow Here”; in this work, the earthy colors andsmall details in yellow recall the sensation of moist and fertile lands,conducive to the development of small creatures that go unnoticed. The artist'sversatility in exploring the natural state of things is also reflected in “Deshechos”,in which the occasional break of a glass becomes an object of photographicresearch, exploring the beauty of the glass's transparency in contrast to theopacity of the wine. Both works propose new perspectives and considerations onsituations and materials.

Each work by Mônica Lóss carries a sense of autonomy and a strongcapacity for transformation. The “Nomad[as]” series is a great example ofthese characteristics, since the parts take different forms with each newassembly. It’s not by chancethat the name of this work is in the feminine: renewal and independence arevery common aspects in this universe. In “Columns”, the structure woven withthreads refers to a vertebral skeleton, filled with unions and delicate colorsthat gently suggest a connection with the female reproductive system. Thesensation provided is that of a space of comfort and refuge, a common theme inthe artist's research.

Research on gestures has become increasingly present in the recenttrajectory of Mônica Lóss, emerging in works that are guided by this action. In“The Fear of Being Afraid”, the artist positions herself in front of the camerato perform a photo performance, recording images that suggest seclusion,insecurity or refusal. It could not be otherwise, since this work was conceivedduring the first moment of social isolation during the Covid-19 pandemic, whenhumanity was forced to face an abyss.

When considering the production of Mônica Lóss as a body of work, it’snoted that it has the common unfinished nature of living beings, capable ofproviding the necessary space for expansion and growth. Changeable in itssubtlety, it invites you to look back at what delicately escapes attention,whether in physical or emotional terms.

Autonomia e transformação - Paula Coraline, Diacrítico

Assim como os tecidos são utilizados para envolver o corpo, na produção artística de Mônica Lóss eles são explorados para abraçar representações de elementos naturais, do universo feminino ou de construções diárias. Sejam com estruturas delicadas ou com aquelas que parecem excêntricas ao olhar, as obras da artista realizam um constante convite à proximidade e ao aconchego, criando espaços de refúgio e respiro.

Em um corpo de trabalho extenso e meticuloso, há obras emblemáticas, que sintetizam com clareza a pesquisa da artista. É o caso de “Enredos”, um livro de artista delicadamente construído com costuras, tecidos e papel vegetal. Há nele a presença de elementos que despontam fortemente em outros trabalhos da artista, como o gestual, o corpo, o ato de fazer, bem como a presença das costuras e dos materiais têxteis. Esses materiais são utilizados para alinhavar uma narrativa potencializadora de espaços, atravessamentos e reminiscências. Além disso, o tempo aparece como um componente importante para os processos artísticos de Mônica, já que o livro foi pensado e construído durante cinco anos.

As formas orgânicas das obras evocam elementos naturais, como em “Coisas Estranhas Crescem Aqui”; neste trabalho, as cores terrosas e pequenos detalhes em amarelo recordam a sensação de terras úmidas e férteis, propícias ao desenvolvimento de pequenas criaturas que passam despercebidas. A versatilidade da artista em explorar o estado natural das coisas transparece também em “Deshechos”, em que a quebra ocasional de uma taça  se torna um objeto de investigação fotográfica, explorando a beleza da transparência do vidro em contraste com a opacidade do vinho. Ambos trabalhos propõem novos olhares e considerações sobre situações e materiais. 

Cada obra de Mônica Lóss carrega em si um senso de autonomia e uma forte capacidade de transformação. A série “Nomad[as]” é um ótimo exemplo destas características, uma vez que as peças assumem diferentes formas a cada nova montagem. Não é por acaso que o nome desta obra está no feminino: renovação e independência são aspectos muito comuns a este universo. Em “Colunas”, a estrutura tecida com linhas e fios remete a um esqueleto vertebral, preenchido com uniões e cores delicadas que gentilmente sugerem uma  conexão com o sistema reprodutor feminino. A sensação proporcionada é de um espaço de conforto e refúgio, tema comum na pesquisa da artista.

A pesquisa em torno do gestual tem se tornado cada vez mais presente na trajetória recente de Mônica Lóss, despontando em trabalhos que são norteados por essa ação. Em “O Medo de Sentir Medo”, a artista se posiciona em frente a câmera para realizar uma foto performance, registrando imagens que sugerem reclusão, insegurança ou recusa. Não poderia ser diferente, uma vez que este trabalho foi concebido no primeiro momento de isolamento social durante a pandemia de Covid-19, em que a humanidade foi obrigada a encarar um abismo. 

Ao considerar a produção de Mônica Lóss como um corpo de trabalho, nota-se que ele possui o inacabamento comum dos seres viventes, capaz de propiciar o espaço necessário para a expansão e o crescimento. Mutável em sua sutileza, ele realiza o convite de voltar o olhar para aquilo que delicadamente foge à atenção, seja em termos físicos ou emocionais.

Interview

 Projeto Curadoria 2020

 Coletivo Amarelo 2020


Publications

Da artista

Do galpão ao salão: o pala gaúcho como referencial na criação de design têxtil

Resumo

A presente pesquisa apresentada no curso de pós-graduação em Design para Estamparia (2005) na Universidade Federal de Santa Maria, RS, Brasil, teve por objetivo desenvolver estudos de padronagens têxteis aplicáveis a peças do vestuário, utilizando a tecelagem manual em tear de pente-liço e tendo como referencial o pala gaúcho, muito difundido no Rio Grande do Sul desde os primórdios até os dias de hoje. A pesquisa atendeu a uma abordagem qualitativa e utilizou como instrumentos de coleta de dados a análise documental, a pesquisa de campo e a observação, combinadas à metodologia de projeto, que propiciou suporte para a criação em design. Partindo do pala, veste tradicional do gaúcho, constatou-se que é possível criar padronagens aplicáveis a peças do vestuário contemporâneo, conservando suas características originais principalmente no que se refere aos materiais utilizados em sua confecção - a lã de ovelha – e, ao mesmo tempo, propor alternativas ao usar matérias diversificadas como fios e fibras têxteis industrializadas.

Monografia completa

Resume

The present research aims at developing studies of textile patterns to be used in clothing, using hand weaving in a weaver’s loon and referring to the Gaucho’s poncho, largely used in Rio Grande do Sul State since the ancestry until today. The research focus at a qualitative approachand uses as data collecting instruments and document analysis: the field research and the observation, combined to a project methodology which gives support to the creation in design. Beginning from the Gaucho’s poncho, a traditional vesture of the Gaucho, we found out that it is possible to create patterns to be used in the contemporary clothing, keeping their original characteristics specially in what refers to the materials utilized in their making – fleece – and, at the same time propose alternatives by using different materials like industrialized textile yarns and threads.  

Complete text in portuguese 

Books

Palavras e Imagens

Deu a Louca nas letras

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